terça-feira, 16 de setembro de 2008

Aventuras de João Sem Medo - as pedras e os passarões

- Vamo-nos... em... bora!...-gaguejou João Medroso com as garras ferradas nos braços do pobre candidato a ave. - Esta terra está embruxada.
- Porquê?
- Olha como aquela pedra mexe. Ali...
João Sem Medo seguiu com o olhar a direcção indicada pelo dedo vacilante do companheiro e facilmente reconheceu que uma pedra enorme se movia com lentidão de peso.
- Vês? - tartamudeou o covarde de cabelos arrepiados à porco-espinho.
- Vejo... - admitiu o outro João muito tranquilo.
- E então? Não tens medo?
- Não... Primeiro porque sou o João Sem Medo. Segundo, porque jurei esconder o medo de mim mesmo, para não me desprezar. Terceiro, porque uma pedra a andar não me desperta medo, mas apenas curiosidade de saber porque anda.
- Pela tua rica saúde, vamo-nos embora - tremelicava João Medroso.
- Estás doido! Agora não me afasto daqui enquanto não decifrar o mistério.
E calou-se para analisar com atenção extrema os movimentos da pedra que - sobre isso não havia dúvidas - se deslocava no solo.
- Evidentemente, trata-se de uma espécie de tampa que cobre a abertura de um subterrâneo... - raciocinou João Sem Medo em voz alta para o medrolas. - Movida por um mecanismo qualquer...
Conclusão que se comprovou daí a somenos quando a pedra estancou e os dois rapazes verificaram a existência insofismável dum buraco aberto na terra donde, decorrido algum tempo, saíram em fila vários vultos simiescos que tresandavam a suor e carregavam às costas sacos pesadíssimos.

...

E as aventuras de João Sem Medo no "reino" fantástico por detrás do muro que trepou para ver o " Mundo" que havia para além da sua chorosa terra "Chora - Que - Logo - Bebes" continuam.

E as pedras? Estava à espera que fossem algo de fantástico, fabuloso, irreal, diferente. Mas não. Apenas abriam um caminho para homens que transportavam comida para outros homens que viviam nas alturas das suas árvores e não precisavam de se preocupar com as coisas comezinhas da vida, como seja o que comer.

Fiquei triste. Queria umas pedras fabulásticas.
Quanto à moral da história, nada de novo...

Para quem gostar: José Gomes Ferreira "Aventuras de João Sem Medo PanfletoMágico em forma de Romance"

sábado, 13 de setembro de 2008

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Umas rochas que olham o horizonte confiantes da sua aparente perene existência. Julgam "viver" para sempre. Hoje estão seguras. Quando as observo calo o meu saber. Nada é perene; nada é imutátel; nada é para sempre. No entretanto deixo-as enganadas, pretendendo ser eu aquela que ainda quer ser enganada. Ainda queria pensar que a segurança de uma rocha é para sempre...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Rocha serena

Vi pedras noutros lugares, noutros horizontes, noutros seres. Não estou só.
Não sou rocha. Apenas pedra. Uma pedra que, sozinha, olha a vida passar. A rocha é altiva e serena, perene. Eu, como pedra, vou andando, pontapeada por quem passa.
Mas aguardo. Um canto onde descansarei. Poderei então serenar.